Joás Dias de Araújo

O poema "Infindas Horas", de Joás Dias de Araújo, aluno do 3º ano Clássico em 1955, foi publicado na revista Idealista, Ano XI, nº 77, de Novembro de 1955. Um xerox da página foi enviado ao site por Elias Medeiros. (As linhas pontilhadas representam recurso estilístico e não indicam omissões).
Horas tetérrimas de um esperar
Infindo. As horas que jamais se passam
Sem me ferir e me intranqüilizar.
Horas amargas que jamais se passam.

Olho o relógio meu, este aleijado,
Que só se movimenta impulsionado
P'la corda e cujo ritmo é de uma dansa
Monótona, que cansa e nunca avança.
Ritmo bem louco, o do relógio meu,
Parece o ritmo em que o poeta escreveu
Estes versos sem lógica e sentido,
Escritos p'ra alegrar "o não sofrido".
Mas a rima se esgota, pois paupérrimo
É o recurso do poeta e tetérrimo
O gingar requebrado do ponteiro,
Como a consciência de um relojoeiro.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

E volta novamente o pavoroso
Esperar. E o relógio sente gozo...
E o ponteiro, se estremecendo, espera
Vencer mais horas e as horas vão correndo
No mesmo ritmo, e em o ponteiro vendo
Não faz nenhum esforço. Ele tolera
A marcha sem progresso em que estivera
Rodando sobre o duro mostrador
Da vida rotineira e seu torpor.
E o ponteiro bestial não vê perigo
Conduzindo o humanal também consigo.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Não sou nenhum ponteiro humano, eu creio,
Pois se eu vivesse a dar os mesmos passos,
Sem progredir, acabrunhados, lassos,
Eu voltaria de onde o corpo veio...

É por isso que as minhas horas vagas
Se tornam cheias de enfadonhas máguas
E o meu ser se angustia tanto assim...
Horas vagas - lucubrações sem fim...
Horas tetérrimas de um esperar
Infindo. Horas que nunca mais se passam
Paradas no Sofrer do Não Amar...
Poesia -- minha música em palavras,
Descobrisse eu em diamantinas lavras
Mataria essas horas sem sossego:
-- é isto que nos sonhos tanto almejo...
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Horas que não se cansam de passar,
Que eu sozinho estou a meditar,
Vocês parecem grandes monumentos,
Humanizando todos sofrimentos
Com o ponteiro do mundo em sua dansa
Monótona,
Que cansa
E nunca avança...

[Nota do Web Master: O Aurélio nos ensina que a palavra "tetérrimo", três vezes usada pelo poeta, é o superlativo absoluto do adjetivo "tetro", que quer dizer "negro, escuro, sombrio, horrível, medonho, tétrico". Os Manuelinos eram um pouco chegados a uma retórica bem trabalhada, no velho estilo -- nada de Nouvelle Rhétorique lá. Com Infindas Horas e esta pequena contribuição do Web Master, ninguém vai poder nos acusar de estar perdendo tempo na Internet: Internet, agora, também é cultura!...]
           
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